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James Baldwin e George Orwell, dois autores incríveis que (re)descobri recentemente.

Ler é uma coisa que adoro fazer e que conseguir manter, mesmo com a loucura do doutorado onde tinha que ler centenas de artigos diferentes todas as semanas. Passei a perceber a leitura como um lazer, onde eu consigo relaxar a minha cabeça e conhecer histórias lindas e interessantes. 

No ano passado, dois autores tiveram um grande destaque nas minhas leituras: James Baldwin - que já conhecia e redescobri - e George Orwell, um que só ouvia falar mas nunca tinha lido nada dele. Os dois foram uma ótima companhia no ano passado, sobretudo nos momentos tensos da pandemia. 


James Baldwin


Do Orwell eu li primeiro A Revolução dos Bichos e depois 1984. Os dois filmes usam a distopia e o mundo fantasioso, mas falam muito sobre a natureza mais dura da vida humana. É engraçado perceber como o autor consegue criar situações extremas que, mesmo acontecendo em cenários completamente fora da realidade, reproduzem cirurgicamente a pobreza da alma dos seres humanos. E mesmo escritos há décadas, os dois livros são extremamente atuais. 

A corrupção e o egocentrismo dos porcos na Revolução dos bichos e a passividade dos outros bichos não poderiam representar melhor o contexto que vivemos agora, em diversos países do mundo. A situação absurda de 1984 - de onde, inclusive, saiu o termo Big Brother - mostra o mundo que os monstros bolsonaristas sonham em implantar e que, em parte, conseguiram, com os seus seguidores cegos. 




De James Baldwin li, na verdade reli, "O Quarto de Giovanni" e posso dizer que é realmente uma obra incrível. Existe até um fato interessante sobre o livro: quando o editor de Baldwin leu o manuscrito pela primeira vez, aconselhou o autor a queimá-lo, tamanha a ousadia do texto. Afinal, era uma história muito marcante e muito forte de um homem bissexual no começo do século passado que vive um grande amor por outro homem em Paris. O texto é tão envolvente e rico que li o livro em três ou quatro dias. 

Do mesmo autor também li "Se a Rua Beale Falasse", mostrando a difícil vida de um jovem casal negro em NY no início do século. Não sei o quanto os jovens da geração Z estão familiarizados com Baldwin, mas os seus textos são impressionantemente fortes e atuais. Se pensarmos no contexto em que foram escritos então, é de ficar chocado com a coragem e a autenticidade de sua escrita. Com certeza um dos grandes escritores do século XX que, por conta do racismo estrutural, ainda não é reconhecido como tal. Mas os seus textos são atemporais, e tenho certeza que a riqueza de suas histórias e a qualidade de sua escrita vencerão o teste do tempo e tenho a esperança de que tenha um melhor reconhecimento no futuro. Se ainda não o conhece, corra. E se encante. Com certeza, vai amar. 

Para saber mais sobre James Baldwin, recomendo ler este post: James Baldwin onde pode ver 11 de suas frases mais conhecidas. Delas, destaco essa: "I imagine one of the reasons people cling to their hates so stubbornly is because they sense, once hate is gone, they will be forced to deal with pain" (acredito que uma das razões pelas quais as pessoas sejam tão apegadas ao ódio é que elas sentem que, uma vez o ódio não esteja mais presente, elas terão que lidar com suas dores). 

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